por Luciana Romagnolli
Partindo de uma vontade de subversão, a montagem evoca em cena todo o imaginário das fábulas infantis às não menos fabulosas histórias sobre celebridades. Narrativas distintas a priori, mas que concordam, entre outras coisas, no potencial que ambas apresentam para projetar sonhos ingênuos.
Da conjugação, nasce o protagonista: um decaído príncipe Michael Jackson (ou heterônimo que o valha) trajado com uma máscara de sapo. Ao redor dele, transitam caricaturas distorcidas de figuras infantis como a Barbie, o Ken, a Minnie e o Mickey, sob o efeito da lente adulta que outrora as tivera como construtoras do imaginário, hoje as perverte.
Talvez a parte do público ver a Barbie e o Ken envolvidos em escândalos sexuais ou perceber a cegueira de perspectivas das empregadas que tudo fariam para se aproximar do ídolo traga alguma clareza crítica sobre a sociedade contemporânea, mas Pop Love olha o fenômeno da fama focando clichês e debochando do vazio existencial das duas camadas, a de fãs e de celebridades, sem se deter no que constitui a fama.
Sintomaticamente, o ator que representa Michael Jackson está sufocado por uma máscara de sapo que recobre toda a cabeça (valeria questionar se a oposição entre príncipe e sapo não se tornou uma imagem tão desgastada quanto redutora da afetividade feminina). Acontece que esse é um Michael Jackson absolutamente desprovido de voz, impedido de se expressar.
A perspectiva do ídolo não é ouvida. Em compensação, uma das cenas capazes de provocar maiores abalos emocionais, pela identificação ou pela memória afetiva, é a coreografia de "Thriller". Por quê? O que faz desse homem ídolo e que sua música atinja a sensibilidade coletiva? Está aí uma questão deixada intacta, em troca da exposição do patético da idolatria.
No trato propositalmente tosco e debochado, que pretende dar acidez ao tema, a encenação de Pop Love descarta o rigor. O elenco se entrega às ações com vontade e transparece crença no que faz, o que não garante preparo vocal suficiente para que se entenda o que cantam as simbólicas noivas, nem uma construção corporal delineada ou uma movimentação que aproveite o espaço.
Da conjugação, nasce o protagonista: um decaído príncipe Michael Jackson (ou heterônimo que o valha) trajado com uma máscara de sapo. Ao redor dele, transitam caricaturas distorcidas de figuras infantis como a Barbie, o Ken, a Minnie e o Mickey, sob o efeito da lente adulta que outrora as tivera como construtoras do imaginário, hoje as perverte.
Talvez a parte do público ver a Barbie e o Ken envolvidos em escândalos sexuais ou perceber a cegueira de perspectivas das empregadas que tudo fariam para se aproximar do ídolo traga alguma clareza crítica sobre a sociedade contemporânea, mas Pop Love olha o fenômeno da fama focando clichês e debochando do vazio existencial das duas camadas, a de fãs e de celebridades, sem se deter no que constitui a fama.
Sintomaticamente, o ator que representa Michael Jackson está sufocado por uma máscara de sapo que recobre toda a cabeça (valeria questionar se a oposição entre príncipe e sapo não se tornou uma imagem tão desgastada quanto redutora da afetividade feminina). Acontece que esse é um Michael Jackson absolutamente desprovido de voz, impedido de se expressar.
A perspectiva do ídolo não é ouvida. Em compensação, uma das cenas capazes de provocar maiores abalos emocionais, pela identificação ou pela memória afetiva, é a coreografia de "Thriller". Por quê? O que faz desse homem ídolo e que sua música atinja a sensibilidade coletiva? Está aí uma questão deixada intacta, em troca da exposição do patético da idolatria.
No trato propositalmente tosco e debochado, que pretende dar acidez ao tema, a encenação de Pop Love descarta o rigor. O elenco se entrega às ações com vontade e transparece crença no que faz, o que não garante preparo vocal suficiente para que se entenda o que cantam as simbólicas noivas, nem uma construção corporal delineada ou uma movimentação que aproveite o espaço.
O mais complicado, porém, é como o espetáculo permanece fechado no universo televisivo, como se curvado à sua influência sem escapatória. Ao tratar seus personagens como massa amorfa, sujeita à dominação de uma sociedade do espetáculo que lhe embota os sentidos, sem possibilidade real de individualidade ou de afirmação do eu, não resta ao espectador muito mais do que o mesmo. A única saída dada é a subversão dos ícones pop, como se nada mais houvesse para expandir o pensamento e estimular o senso crítico (e a criatividade) fora desse universo. Como se desligar a televisão fosse impossível.
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