domingo, 6 de fevereiro de 2011

Macksen Luiz e Daniel Schenker falam sobre teatro no ambiente virtual

por Luciana Romagnolli

Publiquei hoje no O Tempo uma matéria sobre como o teatro aproveita as possibilidades da internet. Entrevistei uma porção de críticos de teatro a quem admiro. Com o espaço exíguo lá, boas respostas ficaram de fora, coloco-as aqui. A começar por Macksen Luiz, crítico do Jornal do Brasil, que acaba de criar seu blog. E, abaixo, seu colega Daniel Schenker.



"Barba Azul", sobre o qual Macksen Luiz escreve em seu blog

O que o motivou a criar um blog e escrever críticas na internet, depois de tantos anos fazendo críticas teatrais para veículos impressos? A partir dessa nova experiência, pode me dizer no que o blog se difere da crítica praticada em veículos impressos?

Macksen Luiz - Ainda é uma experiência muito recente para mim. Criei o blog há menos de um mês, e ainda que o jornal em que escrevia se transformou em digital, a plataforma não estava plenamente implantada com as suas reais possibilidades. O blog permite maior liberdade para que se opine em linguagem mais direta e na frequência que se quer, ou que se acredite oportuna. São possibilidades novas e aliciantes.

Pelo que você observa, de um modo geral, que possibilidades a internet (a blogsfera, os fóruns virtuais etc) apresenta para a disseminação, debate ou preservação da memória e do presente do teatro?

Tanto acredito neste aspecto de preservação da memória e do presente do teatro, que criei no meu blog o que intitulei de Palco Nostálgico, em que retomo aspectos do passado teatral, registrados na época em que os analisei. Com o apoio de fotografias, os textos adquirem amplitude visual na fixação histórica. Em relação a atualidade, a agilidade que esses meios oferecem, possibilitam que as críticas sejam postadas em seguida à ida ao teatro. É quase o revival da prática da primeira crítica, dos bons tempos dos espaços amplos dos jornais para a crítica teatral, e para relembrar as tensões dos elencos americanos que esperavam, ansiosamente as críticas dos jornais, horas depois das estréias.


Fernanda Montenegro, como Petra, na temporada de 1982

Vejo uma profusão de sites e blogs de crítica de cinema, discutindo a fundo suas vertentes... Você considera que o teatro ocupa bem o ambiente virtual? Falo da crítica, sobretudo, mas também dos artistas (com sites de grupos) e até do público.

Para o teatro, sites e blogs ainda são recentes. Estão experimentando. O exercício da crítica teatral  exige uma recepção que ultrapassa as meras indicações, obrigando a quem a exerce, uma sedimentação de conceitos e a quem a lê, uma escuta mais detalhada. Há que atender a ambas. Críticos, grupos, artistas.  

Por outro lado, surgem iniciativas de tentar aproveitar o ambiente virtual para transmitir espetáculos. Algumas companhias têm feito isso via streaming (ao vivo): a Silenciosa, de Curitiba, já o fez com um espetáculo performático que se passava em um bar, "Burlescas", transmitindo ao vivo pela internet. Zé Celso fez o mesmo recentemente. Ao mesmo tempo, alguns teatros gravam apresentações e armazenam os vídeos na internet, cobrando ou não para que o internauta os veja. Na sua opinião, o teatro sobrevive quando transposto em vídeo para a internet? E ainda que perca sua especificidade e se transforme em outra coisa, são iniciativas legítimas para ampliar o acesso e a memória de espetáculos?

Tal como meios tradicionais (cinema, vídeo), também o ambiente virtual tem limitações para captar espetáculos teatrais. É da natureza da cena, a sua especificidade física, de confronto, de recepção "corpo-a-corpo", é uma arte vivificada pela presença.Acredito que os chavões de "ampliação de público", "acesso ao teatro" e outras balelas ouvidas há décadas, nada têm a ver com meios de divulgação. Ampliação de público tem a ver com educação. Quanto a memória, o teatro agradece os registros. 

*

Daniel Schenker escreve sobre "Senhora dos Afogados" 

Outro entrevistado carioca foi o crítico Daniel Schenker, colega de Macksen no Jornal do Brasil, de quem reproduzo as respostas em tópicos:

Experiência online
"Escrevo para os sites http://www.criticos.com.br/, http://www.questaodecritica.com.br/ e http://www.jb.com.br/. Os sites tendem a libertar o crítico da limitação de espaço dos veículos impressos, ainda que se ouça com frequência que o leitor não gosta de se deparar com textos muitos longos na internet. Mas como não sou submetido a uma forma muito rigorosa nos veículos impressos para os quais escrevo, a diferença, no meu caso, não é gritante."

Virtual e Impresso
Acho que há iniciativas importantes tanto para a reflexão quanto para a preservação da memória nos meios impressos e virtuais. No primeiro caso posso citar revistas como a Folhetim, da companhia Teatro do Pequeno Gesto, a Vintém, da Cia. do Latão, e, numa proposta mais jornalística, a Revista de Teatro da Sbat; no segundo, a questaodecritica. Ou seja: não me parece que o impresso ou o virtual sejam determinantes.

Streaming e espetáculos na web
"Eu não me sinto autorizado a marcar oposição a iniciativas como registro e transmissão de espetáculos na internet. Mas ouço com certo temor iniciativas como estas numa época de fascínio pelo virtual, por vivenciar experiências em frente ao computador. E me soa estranho em relação ao teatro, uma manifestação artística cuja especificidade é a presença ao vivo do ator diante do espectador. Em todo caso, o mais importante nisso tudo é a possibilidade de registro. Os pesquisadores de teatro normalmente sofrem com a falta de registros (ou com a precariedade deles) quando se debruçam sobre décadas passadas, mesmo que dificilmente o espetáculo gravado reproduza ipsis litteris a encenação ao vivo."

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