Publiquei hoje no O Tempo uma matéria sobre como o teatro aproveita as possibilidades da internet. Entrevistei uma porção de críticos de teatro a quem admiro. Com o espaço exíguo lá, boas respostas ficaram de fora, coloco-as aqui. A começar por Macksen Luiz, crítico do Jornal do Brasil, que acaba de criar seu blog. E, abaixo, seu colega Daniel Schenker.
"Barba Azul", sobre o qual Macksen Luiz escreve em seu blog |
O que o motivou a criar um blog e escrever críticas na internet, depois de tantos anos fazendo críticas teatrais para veículos impressos? A partir dessa nova experiência, pode me dizer no que o blog se difere da crítica praticada em veículos impressos?
Macksen Luiz - Ainda é uma experiência muito recente para mim. Criei o blog há menos de um mês, e ainda que o jornal em que escrevia se transformou em digital, a plataforma não estava plenamente implantada com as suas reais possibilidades. O blog permite maior liberdade para que se opine em linguagem mais direta e na frequência que se quer, ou que se acredite oportuna. São possibilidades novas e aliciantes.
Pelo que você observa, de um modo geral, que possibilidades a internet (a blogsfera, os fóruns virtuais etc) apresenta para a disseminação, debate ou preservação da memória e do presente do teatro?
Tanto acredito neste aspecto de preservação da memória e do presente do teatro, que criei no meu blog o que intitulei de Palco Nostálgico, em que retomo aspectos do passado teatral, registrados na época em que os analisei. Com o apoio de fotografias, os textos adquirem amplitude visual na fixação histórica. Em relação a atualidade, a agilidade que esses meios oferecem, possibilitam que as críticas sejam postadas em seguida à ida ao teatro. É quase o revival da prática da primeira crítica, dos bons tempos dos espaços amplos dos jornais para a crítica teatral, e para relembrar as tensões dos elencos americanos que esperavam, ansiosamente as críticas dos jornais, horas depois das estréias.
Fernanda Montenegro, como Petra, na temporada de 1982 |
Vejo uma profusão de sites e blogs de crítica de cinema, discutindo a fundo suas vertentes... Você considera que o teatro ocupa bem o ambiente virtual? Falo da crítica, sobretudo, mas também dos artistas (com sites de grupos) e até do público.
Para o teatro, sites e blogs ainda são recentes. Estão experimentando. O exercício da crítica teatral exige uma recepção que ultrapassa as meras indicações, obrigando a quem a exerce, uma sedimentação de conceitos e a quem a lê, uma escuta mais detalhada. Há que atender a ambas. Críticos, grupos, artistas.
Por outro lado, surgem iniciativas de tentar aproveitar o ambiente virtual para transmitir espetáculos. Algumas companhias têm feito isso via streaming (ao vivo): a Silenciosa, de Curitiba, já o fez com um espetáculo performático que se passava em um bar, "Burlescas", transmitindo ao vivo pela internet. Zé Celso fez o mesmo recentemente. Ao mesmo tempo, alguns teatros gravam apresentações e armazenam os vídeos na internet, cobrando ou não para que o internauta os veja. Na sua opinião, o teatro sobrevive quando transposto em vídeo para a internet? E ainda que perca sua especificidade e se transforme em outra coisa, são iniciativas legítimas para ampliar o acesso e a memória de espetáculos?
Tal como meios tradicionais (cinema, vídeo), também o ambiente virtual tem limitações para captar espetáculos teatrais. É da natureza da cena, a sua especificidade física, de confronto, de recepção "corpo-a-corpo", é uma arte vivificada pela presença.Acredito que os chavões de "ampliação de público", "acesso ao teatro" e outras balelas ouvidas há décadas, nada têm a ver com meios de divulgação. Ampliação de público tem a ver com educação. Quanto a memória, o teatro agradece os registros.
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Daniel Schenker escreve sobre "Senhora dos Afogados" |
Outro entrevistado carioca foi o crítico Daniel Schenker, colega de Macksen no Jornal do Brasil, de quem reproduzo as respostas em tópicos:
Experiência online
"Escrevo para os sites http://www.criticos.com.br/, http://www.questaodecritica.com.br/ e http://www.jb.com.br/. Os sites tendem a libertar o crítico da limitação de espaço dos veículos impressos, ainda que se ouça com frequência que o leitor não gosta de se deparar com textos muitos longos na internet. Mas como não sou submetido a uma forma muito rigorosa nos veículos impressos para os quais escrevo, a diferença, no meu caso, não é gritante."
Virtual e Impresso
Acho que há iniciativas importantes tanto para a reflexão quanto para a preservação da memória nos meios impressos e virtuais. No primeiro caso posso citar revistas como a Folhetim, da companhia Teatro do Pequeno Gesto, a Vintém, da Cia. do Latão, e, numa proposta mais jornalística, a Revista de Teatro da Sbat; no segundo, a questaodecritica. Ou seja: não me parece que o impresso ou o virtual sejam determinantes.
Streaming e espetáculos na web
"Eu não me sinto autorizado a marcar oposição a iniciativas como registro e transmissão de espetáculos na internet. Mas ouço com certo temor iniciativas como estas numa época de fascínio pelo virtual, por vivenciar experiências em frente ao computador. E me soa estranho em relação ao teatro, uma manifestação artística cuja especificidade é a presença ao vivo do ator diante do espectador. Em todo caso, o mais importante nisso tudo é a possibilidade de registro. Os pesquisadores de teatro normalmente sofrem com a falta de registros (ou com a precariedade deles) quando se debruçam sobre décadas passadas, mesmo que dificilmente o espetáculo gravado reproduza ipsis litteris a encenação ao vivo."
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