domingo, 6 de fevereiro de 2011

Valmir Santos e Lucianno Maza falam sobre teatro e internet

por Luciana Romagnolli

Continuo o post abaixo, com as opiniões de mais dois críticos de teatro sobre as relações desta arte com a internet. Primeiro, fala o carioca Lucianno Maza, dramaturgo, diretor e crítico do Caderno Teatral. Logo abaixo, estão as respostas do Valmir Santos, crítico paulista que mantém o site Teatro Jornal.

"Pororoca", peça-tema de Lucianno Maza no site Caderno Cultural

Experiência com crítica online
Mantenho o site Caderno Teatral, onde sou editor. Minhas críticas também são continuamente distribuídas pela agência de notícias BR Press e publicadas em veículos como o portal Yahoo! Brasil. Acredito que a principal diferença do material produzido na internet para o publicado em impressos é a liberdade de espaço (relativa em grandes portais) permitindo assim que questões sejam esmiuçadas mais profundamente resultando num texto ainda mais rico.

Possibilidades
Sem dúvida a internet atua como um grande arquivo geral do mundo e o teatro, arte efêmera por natureza, encontra na rede um espaço para arquivar sua História através de registros fotográficos, textuais - como a crítica - e audiovisuais de espetáculos. O acesso é democratizado. Da mesma forma, o campo livre da web abre espaço para o debate do teatro entre interessados e fomenta a criação de blogs sobre o assunto. Por fim, hoje a internet é o principal meio de divulgação de espetáculos, cumprindo papel de mídia livre e canal de marketing direto.
 
Preconceito
Infelizmente o teatro ainda não tem grande espaço na internet. Em parte por ser uma das artes que atinge menor número de pessoas e é restringido a um local (despertando portanto menor interesse). Também é preciso mencionar que o atraso nesta relação se deve à muitos artistas de teatro que ainda têm preconceito (ou medo) com as novas tecnologias, rivalizando com a internet por considerarem o artesanal do teatro incompatível com a rede - sendo essa o maior reflexo de nosso tempo globalizado. Independente do julgamento de valor, o movimento de stand-up comedy no Brasil é um exemplo bem sucedido de relação com a internet, tendo se alimentado dela e também a alimentando e formando pela rede um público novo. Seria interessante flertar mais abertamente com as possibilidades seja como suporte artístico ou, ao menos, como canal de comunicação direta com o público para além da mera divulgação.


"Cachorro", peça disponível no Cennarium
 

Indicações
O trabalho do Michel Fernandes no Aplauso Brasil, além dele críticos gabaritados como Afonso Gentil, Maria Lucia Candeias - que vêm de veículos tradicionais - e outros já da nova era digital como Ruy Jobim Neto assinam boas críticas. Não me recordo de nenhum site de grupos, mas chamo atenção para o canal direto de integrantes destes com o público através dos blogs, é o caso do Mário Bortolotto, do Cemitério de Automóveis, e do Ivam Cabral, dOs Satyros, por exemplo.

Streaming e apresentações na web
Sou totalmente a favor do teatro na internet e das experimentações que viabilizem isso. Tem o Cennarium, por exemplo, que filma em boa qualidade as peças em cartaz e disponibiliza ao público como entretenimento mas que, futuramente, terá um valor ainda maior de registro histórico - espero que disponibilizado gratuitamente. Quanto à linguagem, o Teatro Para Alguém tem buscado uma fórmula inovadora de decodificar o teatro para o vídeo pensando no espectador de internet. O hibridismo de linguagens apontado pelo TPA é uma possibilidade de levar o teatro para a rede encontrando um sentido pra ele dentro dessa nova linguagem.

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Valmir Santos comenta sua experiência no Teatro Jornal , site que criou após anos no jornal Folha de S. Paulo, e as mutações pelas quais a recepção de espetáculos passa.

"Alguns Leões Falam": Valmir Santos comenta a dramaturgia  

Distinções
A mudança mais notória, e mais difícil para quem aprendeu a nutrir o distanciamento no fazer jornalístico, foi o uso da primeira pessoa. É uma liberdade que nos coloca ainda mais consequentes com a responsabilidade sobre aquilo que escrevemos. No início, imaginava que a web seria um território fértil para um registro mais ensaísta, textos longos, mas, nove meses depois, vejo que nem sempre esse mergulho é possível; a instantaneidade se impõe também.

Streaming e apresentações na web
Essa questão é complexa porque ainda estamos no calor das mutações na recepção do espetáculo. Em princípio, a transmissão simultânea de uma apresentação dialoga com a presença viva dessa arte, encontra eco com a multidão da arena ou da ágora gregas hoje sincronizadas na rede mundial de computadores. Já os arquivos dos espetáculos que viriam a ser fruído feito DVD, aí são outros quinhentos. Percebo esse campo mais próximo do acervo, do registro histórico, da memória de um espetáculo e dos seus criadores. Habituar o espectador a não sair de casa para assistir ao teatro gravado numa gaveta virtual soa um tanto anacrônico, trai a essencia da arte viva, a alteridade do encontro público com outros que não conhecemos uma experiência em comum.

E lembro ainda uma outra aproximação do audiovisual com as artes cênicas como fusão de linguagens que resulta numa terceira via mais auspiciosa, como vem tateando o projeto Teatro para Alguém. Há ali uma teatralidade específica, porque artistas de cena estimulados a escrever, atuar, dirigir, enfim, a vivenciar histórias captadas por câmaras e recortes, digamos, teatrais do cinema e do vídeo... Vamos ver no que dá tudo isso.

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