segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"Vida" recebe três indicações ao Prêmio Shell

por Luciana Romagnolli






Nada melhor do que ver um trabalho de alta qualidade ser reconhecido. Ainda mais quando é curitibano. Saiu hoje a lista de concorrentes do segundo semestre ao Prêmio Shell, e Vida (foto de Bruno Tetto), o espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro, ficou entre os líderes em indicações, ao lado de As Três Velhas. Compete em três categorias: melhor autor (Marcio Abreu, Giovana Soar e Nadja Naira), cenário (Fernando Marés) e música (André Abujamra). Parabens!


É sempre complicado opinar sobre essas premiações para quem, de fora do eixo, não teve acesso à maioria dos espetáculos concorrentes. Quando Escuro, o mais indicado do primeiro semestre, veio à Mostra Contemporânea do Festival de Curitiba, ano passado, não me impressionou a ponto de deixar marcas muito fundas na memória. Penso se foi por causa do espaço ou por um mau dia (meu ou dos atores), pois havia sido muito bem recomendado por uma colega jornalista. Fico curiosa de rever, em circunstâncias distintas. 


No mais, merece destaque a dupla indicação do Rodolfo García Vásquez, dos Satyros, pela direção de Roberto Zucco (2° semestre) e Hipóteses para o Amor e a Verdade (1° semestre), e Beto Bruel mais uma vez lembrado, por Cinema, da Sutil Companhia.


A lista completa está aqui:


Autor
- 2º semestre
Vida: Giovana Soar, Marcio Abreu e Nadja Naira
Rua do Medo: Leonardo Cortez 
- 1º semestre
Namorados da Catedral Bêbada: Francisco Carlos
Escuro
Leonardo Moreira 

Direção
- 2º semestre
12 Homens e Uma Sentença: Eduardo Tolentino
Roberto Zucco: Rodolfo García Vásquez  
- 1º semestre
EscuroLeonardo Moreira
Hipóteses Para o Amor e a Verdade: Rodolfo García Vázquez
Side Man: Zé Henrique de Paula

Ator
- 2º semestre
As Três Velhas: Luciano Chirolli
12 Homens e Uma Sentença: Norival Rizzo 
- 1º semestre
A Grande Volta: Fulvio Stefanini
Policarpo Quaresma: Lee Thalor
Side man: Otávio Martins 

Atriz
- 2º semestre
Dueto Para Um: Bel Kowarick
Casting: Bete Dorgam 
- 1º semestre
Seria Cômico Se Não Fosse Sério: Ana Lucia Torre
Escuro: Luciana Paes 

Cenário
- 2º semestre
Vida: Fernando Marés
Roberto Zucco: Marcelo Maffei 
- 1º semestre
Side Man: Jean-Pierre Tortil
Escuro: Marisa Bentivegna e Leonardo Moreira

Figurino
- 2º semestre
Bixiga - Um Musical Na Contra Mão: Isabela Teles e Edson Braga
As Três Velhas: Simone Mina e Carolina Bertier 
- 1º semestre
Policarpo Quaresma: Rosângela Ribeiro 
Escuro: Theodoro Cochrane 

Iluminação
- 2º semestre
As Três Velhas: Alessandra Domingues
Dueto para Um: Caetano Vilela 
- 1º semestre
Cinema: Beto Bruel
H.A.M.L.E.T: Wagner Antônio 

Música
- 2º semestre
Vida: André Abujamra
Bixiga - Um Musical Na Contra Mão: Maestro Fabio Prado
Milagre Brasileiro: Wilame A.C 
- 1º semestre
Lamartine Barbo: Fernanda Maia
Nara: Pedro Paulo Bogossian 

Categoria especial
- 2º semestre
Cia. Elevador Panorâmico de Teatro pela pesquisa e criação do espetáculo Do Jeito Que Você Gosta
Companhia Club Noir pela pesquisa e criação de Tríptico [Richard Maxwell] - Burger King, Casa e O Fim da Realidade
Grupo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes pela pesquisa e criação de A Saga do Menino Diamante - Uma Ópera Periférica
- 1º semestre
Karin Rodrigues pelo encaminhamento e socialização do acervo pessoal de Paulo Autran a instituições culturais
Luiz Päetow pela concepção e pesquisa do espetáculo Abracadabra

Homenagem
Maria Alice Vergueiro, paladino do teatro experimental brasileiro 

O ano das mostras de repertório

por Luciana Romagnolli




A impressão corrente aqui em Belo Horizonte é de que 2010 não foi um bom ano para o teatro local. Em termos, é claro, até porque algumas das principais companhias da cidade estavam ocupadas demais com o sucesso de espetáculos da temporada anterior - como foi o caso da Luna Lunera, viajando sem parar com Aqueles Dois, e do Galpão, com Till - para pensar em estrear qualquer outra coisa. A mim, que não vi tudo, a descoberta do ano passado foi mesmo É Só Uma Formalidade, do Quatroloscinco. Mas esse não pode entrar na conta, pois estreou em 2009.

Em compensação, as expectativas para 2011 são das melhores. Os motivos? Um ano que terá mostras de repertório do Espanca! e da Luna Lunera já não é um ano qualquer. Sem falar em Tchékhov... 



A Luna Lunera planeja para agosto a volta ao cartaz de três espetáculos. Além de Aqueles Dois (2007), resgata Nesta Data Querida (2003), peça dirigida por Rita Clemente; e Cortiços (2008, foto de Tiago Lima), dirigida por Tucá Pinheiro, que embora seja a montagem mais recente do grupo, ficou eclipsada pelo estouro de Aqueles Dois. Fora isso, quer estrear um espetáculo novo, mas ainda não conta qual. 

O Espanca!, por sua vez, segue o ritmo de quem foi contemplado pelo Programa Petrobrás Cultural (o mesmo que originou há dois anos o Projeto Leminski, da Cia Brasileira), com o projeto Dramaturgias do Nosso Tempo. A principal meta será a criação de um espetáculo com o diretor Daniel Veronese, um dos principais nomes do teatro argentino, à frente do grupo El Periférico de Objetos, mas, para isso, têm até 2012.  

No momento, o grupo dirigido por Grace Passô termina uma temporada de Marcha para Zenturo (foto que abre este post) no Centro Cultural São Paulo, até o dia 13 de fevereiro. Logo em seguida, entre 16 e 20 do mês que vem, apresentam o espetáculo no Teatro Oi Futuro, de BH, pela mostra Verão Arte Contemporânea. Ainda neste início de ano, sem data definida, será a inauguração oficial da sede no centro da cidade, com uma temporada de Amores Surdos. Cada um a seu tempo, Por Elise e Congresso Internacional do Medo também voltarão ao cartaz, em temporadas de um mês. 



Enquanto isso, em Curitiba...
Em contato direto com a capital paranaense, o Espanca! vai ao Festival de Curitiba realizar seu primeiro encontro presencial com a Cia Brasileira de Teatro, com a qual troca pacotes criativos pelo projeto Rumos Itaú Cultural, que deve ser descrito passo a passo neste blog, ainda embrionário. Aproveitando a visita, o espetáculo Delírio em Terra Quente, dirigido pelo grupo mineiro durante um projeto pedagógico com os formandos do curso profissionalizante de teatro do Palácio das Artes, vai participar do Fringe, ocupando o teatro Cleon Jacques. (Na foto, Espanca! e Cia. Brasileira, clicados por Felipe Vidal).


A beleza na fragilidade de Ana Clara Horta

por Luciana Romagnolli


O vídeo acima é de "Melodrama", uma canção deliciosa da carioca Ana Clara Horta sobre pequenas desavenças do cotidiano amoroso. Ana Clara não tem uma grande voz ou um timbre impressionante (particularmente, me agrada bastante), mas é refinada. O principal: não faz nada sem cuidado. Ao compor, busca profundidade nas letras e melodias elaboradas; ao cantar, não deixa que o rico instrumental sobressaia demais sobre sua voz frágil (e há beleza na fragilidade, claro).


Afinal, filha de um crítico de música erudita com uma pesquisadora de música folclórica, desde sempre esteve exposta a uma ampla e criteriosa seleção musical. Outro fato biográfico de relevância foi ter esperado uns bons anos até se lançar como cantora e compositora, no finzinho do ano passado, com o disco "Órbita", pela Biscoito Fino. Aos 30, Ana Clara já não é uma novata desavisada dando forma ao primeiro impulso realizador. O senso crítico adquirido em casa mais um tanto de amadurecimento deram consistência a seu trabalho.


Confira alguns trechos da minha conversa por telefone com ela (disposta e simpática, como poucas):


Berço
"O que aparece no meu trabalho é só uma continuação da minha história. Sempre tive música perto de mim, de uma forma muito natural, isso nunca passou pela teoria musical, mas pela vivência, pela escuta. Tinha desde música clássica a popular e folclórica, e tudo que eu escutava em casa, ou independentemente, era de muita qualidade sonora. Isso ficou forte como carro-chefe quando fui trabalhar o disco, até por causa da minha voz, que é delicada."

"Quando eu tinha 12 anos, escutava muito João Gilberto (e Tom Jobim também). Estava começando a aprender pandeiro e tentava acompanhá-lo, era muito difícil por causa dos sons quebrados, mas me identifico pelo som limpo, bem tocado, as composições muito bem feitas e o ritmo dele, que é muito suingado. Ritmo é muito importante pra mim."

"Minha mãe ia dar um curso de música numa tribo na Amazônia e devia levar material, mas não tinha pronto, então ela tocou piano, meu irmão (que começava a aprender) tocou acordeão, minha irmã tocou violão e cantou e eu cantei e fiz percussão. Gravamos uma fita só com música folclórica para minha mãe levar, foi o maior sucesso na rádio local amazônica, e para mim foi um dia muito especial."

Crítica
"Meu filtro é em relação à qualidade sonora, na minha casa não tinha muita bagunça de som. Isso, por um lado, me tornou uma pessoa muito exigente em relação ao que tocar, o que dizer, por outro, posso me fechar para outros tipos de som. Eu me policio muito, mas sou uma pessoa chata, não gosto de qualquer coisa, presto muita atenção, por meu pai ser crítico de música clássica, extremamente rebuscada e com limpeza muito forte de som. Estou muito ligada nisso para não ficar uma pessoa fechada, porque as trocas são muito positivas."

Compor
"Antes eu não achava que tinha um repertório consistente para mostrar, só fui gravar quando tive certeza de estar cercada de pessoas muito boas e que minhas composições tinham muita consistência. Eu componho desde os 14 anos, mas, na verdade, as composições começaram a amadurecer lá pelos 23. Nesse meio tempo, minha mãe adoeceu e isso influenciou muito na maturidade das letras, ela faleceu de câncer há 5 anos. 'Menina de Leite' e 'Pé de Amora' eu fiz muito triste com a perda premente. Me formar em psicologia e minha mãe adoecer foram marcos importantes para mergulhar na história de composição."

"Concordo que tem muita cantora e muita intérprete, mas às vezes falta qualidade às composições. Compor é muito difícil, o que você vai dizer, como dizer, como afetar o outro. Me sinto privilegiada de ter meu trabalho reconhecido como compositora mais do que cantora, estou no caminho certo, embora composição seja um caminho muito difícil. Comecei a pensar mais nas estruturas das músicas e profundidade das letras, não queria entrar com um trabalho raso, até por saber que o mercado estava cheio de compositoras e intérpretes."

"Toco piano, voltei a estudar agora, e violão. Componho ao violão, varia se melodia ou letra, meu processo de composição é muito livre, procuro sempre me adequar à maneira dos meus compositores, das parcerias que travo."

Disco
"Eu fazia aula de canto com o Felipe Abreu, o diretor vocal do disco, que me indicou o Mário Moura para direção musical, fiquei muito agradecida. É muito difícil encontrar um diretor musical que entenda o trabalho, que o deixe com a cara do artista e se veja a identidade do diretor. Ele é um cara que trabalha muito com ritmo, também por causa do Monobloco e do Pedro Luís e a Parede, ao mesmo tempo que com a delicadeza do som, e me deu a ideia de gravar 'Bailarina' com o Pedro Luis - o nome dele associado ao meu trabalho traz muita coisa boa e chama atenção, além disso, acho um cantor de voz muito interessante. Estou na fila pra compor com ele."

"O Mário estava em todos os ensaios, montamos os arranjos todos juntos, com os músicos. O que facilitou muito para isso foi meu violão, todo trabalho do disco foi em função do que eu estava fazendo no violão, já tinha uma identidade ali, dava uma direção, só fizemos com que os instrumentos conversassem com o violão. Minha sensação é que essas músicas são minhas mas também dos músicos que estavam lá comigo, porque ficaram com a cara deles também."

Show
"Fiz o lançamento dia 12 de janeiro no Solar de Botafogo (Rio de Janeiro). O disco funcionou bem, tem uma sonoridade boa, apesar de que ainda é preciso fazer muito ajustes. Estamos nos afinando, quanto mais tocar, mais entrosada fica a banda. Eu tenho expectativa de fazer shows fora do Rio, mas marcado ainda não tem. Fiquei muito impressionada com a repercussão que meu disco teve em Belo Horizonte, feliz por como são abertos para a música brasileira."


Para terminar, deixo a faixa-título, "Órbita", e sugiro ouvir "Balarina" no Myspace dela.





domingo, 23 de janeiro de 2011

O acerto de contas com o passado de David Small

por Luciana Romagnolli e Marcelo Miranda 




A meu pedido, o Marcelo Miranda (jornalista e crítico de cinema do O Tempo e do Filmes Polvo) cedeu para o blog a íntegra de sua entrevista exclusiva por e-mail com o quadrinhista americano David Small, autor de "Cicatrizes" (Leya), uma HQ autobiográfica que figura em listas das melhores de 2010, pela potência emocional e a maneira como se expressa visualmente. Confira (a tradução é minha): 

Marcelo Miranda - Você fez carreira ilustrando livros infantis. "Cicatrizes" sempre esteve presente entre seus projetos como artista ou existiu um momento específico da sua vida que o estimulou a fazer o livro?
Eu sabia que ao fazer Cicatrizes havia a chance de que fazer uma mudança tão grande pudesse confundir meu público, quem me conhecia só por uma via. Mas estou cercado de conselheiros muito bons. Minha esposa, meu agente e também as boas pessoas da W.W.Norton (a editora original), todos pareciam saber que eu tinha algo que seria muito poderoso como literatura. Pessoalmente, eu realmente não tive escolha. Dependia de mim ou encarar essas memórias diretamente e lidar com elas, ou deixar que algo terrível acontecesse. (Depressão, como você sabe, não semeia efeitos apenas na mente, mas também no corpo. Como já disse a psicanalista Alice Miller, o corpo nunca mente, ele expressa por nós o que nos recusamos a assumir, e isso geralmente nos abre a doenças). 

Vivi mais de meio século e continuava tendo sonhos e depressões que mostravam que, em algum nível, eu ainda era um garoto problemático de 14 anos. Eu precisava investigar isso. Eu pensei que gostaria de voltar a fazer psicanálise profunda, mas onde vivo, nos campos, é impossível achar esse tipo de ajuda. Aqui você consegue remédios, que podem ajudar contra o estresse, mas eles não agem na raiz do problema. Por isso, fazer esse livro foi uma maneira de trazer de volta o passado e me fazer revivê-lo de um modo muito real e confrontativo. O fato de poder fazer isso com imagens ajudou demais, porque fez que tudo isso fosse muito imediato e tangível.(Eu recomendo altamente!).



Histórias em quadrinhos com elementos autobiográficos sempre existiram (inclusive com Will Eisner), mas ganharam ainda mais força nos últimos anos, com sucessos como "Retratos", "Persépolis" e "Fun Home". O seu livro se diferencia pelo olhar mais amargo e pelo tom trágico da história. Foi muito difícil rememorar os acontecimentos da sua infância e juventude?
Sim, foi difícil, até assustador às vezes, especialmente quando percebi que conseguia, cada vez com mais facilidade, reviver a minha mãe naquelas páginas. Com frequência, senti que eu não poderia continuar, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que se não o fizesse, eu estaria perdendo algo importante. Não gosto de falhar, não gosto de desistir, e eu queria ser bravo, como um soldado em batalha. O que me ajudou muito foram os sonhos - todos eles preservados ao longo dos anos no meu diário de sonhos - que injeta um tom de metáfora fantástica na minha história desolada. Enquanto eu os desenhava, comecei a entender seus significados com mais clareza. Isso também ajudou a conseguir a simpatia e o encorajamento de familiares, amigos e editores (Assim como um contrato e um prazo, dois ótimos motivadores!).    

Além de um relato muito forte, "Cicatrizes" é uma excelente história em quadrinhos. Você sempre pensou em contar sua história nesse formato? 
Eu não pensei nele como um quadrinho, mas mais como um filme, que é o meio que eu estudei mais. É por isso que a graphic novel - especialmente aquelas que li quando estava na França, muitas delas com uma forte influência cinematográfica - se tornou meu meio perfeito. Eu tentei fazê-lo como uma obra em prosa, mas escrever era muito difícil para mim. Por alguma razão, eu penso mais fortemente na linguagem visual. Meu signo astrológico (aquário/ macaco) diz que sou agressivamente verbal. Isto é verdade, eu acho, mas, como ao crescer não era permitido ser verbal e sempre fui proibido de expressar minhas opiniões, passei a ser bem mais observador. Acho que é correto dizer que eu sou agressivamente comunicativo, mas não tão adepto à linguagem escrita.


Seus pais faleceram antes de você publicar "Cicatrizes". Você teria conseguido, pessoalmente, fazer ou publicar o livro com eles ainda vivos?
Provavelmente, não. Enquanto eles ainda estavam vivos, eu estava muito zangado, muito ferido, e não era muito razoável quanto a isso. Evitava confrontos porque temia meus sentimentos explosivos. Dito isso, eu não acho que um livro como esse teria resolvido o conflito. Iria embaraçá-los profundamente, talvez deixá-los muito culpados, e não era nada disso que eu buscava ao fazer o livro. Nunca quis ser maligno ou revanchista, mas, sim, autêntico comigo mesmo. A verossimilhança foi minha inspiração. Os sentimentos dos meus pais estavam realmente fora de questão. Por eles estarem mortos, pude dizer tudo o que eu queria sem nenhum medo de reprovação. E, devo dizer, eu senti a reprovação mesmo assim, a cada linha que eu desenhava! As vozes e as opiniões deles ainda estavam na minha mente, como a voz de um superego punitivo constantemente fazendo terríveis julgamentos. No meu livro, eu não digo ou mostro nada que não tenha acontecido. (Meu próprio irmão confirmou isso em entrevistas. Ele viveu a mesma vida que eu, talvez pior, porque nasceu antes). Revelei os acontecimentos do meu ponto de vista como criança, não do ponto de vista deles, que eu só poderia supor. Tentei não fazer avaliações. Não havia necessidade de julgamento. Era suficiente dizer: "foi isso o que aconteceu".

Eu gostaria de ter conversado com meus pais sobre o que está no livro, mas teria sido impossível ter esse tipo de discussão. Com meu pai, antes de ele morrer eu tentei, mas, a cada vez, ele ficava com os olhos cheios de lágrimas, furioso e desviava. Parecia ser um ato supremo de deslealdade confrontá-lo com isso. Ele só queria uma vida tranquila. Minha mãe não estava em contato com seus verdadeiros sentimentos e geralmente estava zangada com os rumos de sua vida. Eram pessoas de uma outra geração e de uma fração da nossa cultura na qual Freud não era ouvido. Eles eram educados, mas não intelectuais.  Estavam interessados em dinheiro, não em autoconhecimento. Por todas essas razões, ele devem ser perdoados. Cicatrizes me ajudou a me distanciar disso tudo e, o mais importante, a ver meus pais como seres humanos. Esse é o único tipo de perdão que, no fim das contas, significa algo para mim.

sábado, 22 de janeiro de 2011

O misterioso e sensível Liniers

por Luciana Romagnolli



Na semana passada, entrevistei o quadrinhista argentino Ricardo Liniers, autor das tirinhas Macanudo, publicadas diariamente no La Nación e na Folha de S. Paulo, e em livros pela Zarabatana Books. Aqui, a conversa inteira:

Quais são os ilustradores que mais influenciaram seus desenhos? Imagino que Quino tenha sido importante. A Enriqueta é “filha” da Mafalda?
Toda a minha geração na Argentina aprendeu a ler lendo Mafalda. Sempre gostei de quadrinhos, buscava HQs que tinham a ver comigo no momento. Assim, do Quino passei ao Tintim e ao Asterix. Quando comecei a desenhar a Enriqueta, Macanudo tinha muitos experimentos e coisas estranhas, eu queria fazer um personagem clássico como Charlie Brown, Calvin e Mafalda. Ela se transformou em uma personagem meio central, mas me afastei da Mafalda, que é insuperável. Em vez de fazer uma menininha com todos os seus amigos, cada um com uma personalidade, eu a fiz interiorizada, sozinha com seu gato e seu ursinho. Não é uma personagem sociável.

O pesquisador brasileiro Paulo Ramos, autor do livro Bienvenido, sobre quadrinhos argentinos, do qual você fez a capa, diz que seus desenhos têm forte influência também de outro ilustrador argentino, o Max Cachimba. Quem é ele?
Ele é um desenhista de Rosário, um gênio absoluto e um personagem muito particular, por quem todos os desenhistas argentinos são fanáticos, mas a verdade é que não se conhece muito a sua obra. É o desenhista com mais imaginação e talento para desenhar que conheço.



Tem ideia de quantos personagens já criou?
Não os contei, vão se somando. Há três ou quatro anos fiz um pôster com todos os personagens até o momento, mas desde então já surgiram outros. Quase todos os personagens aparecem porque há um registro de humor que pretendo investigar. Com a Enriqueta, queria o registro clássico. Com o Olivério, a azeitona, o humor negro, para torturá-lo um pouquinho. Com outros, o absurdo ou o surrealista. Às vezes os personagens ficam para sempre e às vezes desaparecem.



Algum deles, particularmente, sintetiza sua visão de mundo?
Não, creio que se apanha-los todos e metê-los em um liquidificador, dá um suco de Liniers, porque todos tem algum pedaço da minha personalidade. O homem misterioso, quando sou misterioso, o robô sensível quando estou sensível.



O Capitão Deja Vu é um dos mais novos. Como surgiu? Ele tem a ver com alguma personalidade pública atual?
Não lembro como surgiu, mas o que sei é que não me dá muito trabalho, porque posso repetir o quadro (risos). Pensei que seria só uma piada e já são várias tiras. Tem a ver com a televisão, certamente, essa obsessão de fazer sempre o mesmo. E com os políticos um pouquinho também.

A política argentina e as suas viagens a outros países inspiram seus desenhos?
Gosto que no Macanudo valha tudo. Quando tem um caso político que me interessa e quero chamar a atenção, coloco. E quando só quero me divertir, o faço. Me lembro que em Belo Horizonte, quando fui à FIQ, fiz uma tira porque saí para caminhar e desenhei três lugares, a tira é só isso.



Para você, desenhar uma tirinha nova a cada dia é simples? Como é sua rotina criativa?
A princípio me dava um pouco de medo porque nunca se sabe se vai conseguir fazê-lo, mas com o tempo me dei conta que é um ofício, como o do carpinteiro. Geralmente trabalho pela manhã, de forma ordenada, e deixo que o fim de semana seja fim de semana.

Uma das maiores qualidade de seus quadrinhos é o aproveitamento do espaço. Por exemplo, quando a piada está em um detalhe que não chama a atenção à primeira vista ou, como recentemente, com um só quadro incompleto e o aviso de que ainda fazia o download. Como você pensa espacialmente seus desenhos?
Com a mesma liberdade que com a temática. Quando comecei a desenhar a tira, pensei que fazer todos os dias o mesmo tipo de desenho em quatro quadrinhos um na frente do outro me parecia entediante. A cada tira me diverte fazer algum experimento, mudar os quadros de lugar, às vezes com muitos quadros, outras apenas um, para não me enfastiar.

Outra qualidade está no modo como faz do simples, assombroso, ou do insignificante, expressivo. Não é um senso de humor comum, mas mais amplo. Você considera seus quadrinhos, mais do que humor, um espaço para todos os sentimentos humanos?
Acho que as pessoas que me contrataram queriam que eu fizesse sempre engraçado (risos), mas eu pessoalmente não me sinto obrigado a isso todos os dias. Para mim, humor pode ser de outros tipos, melancólico, mau humor, irritado, até porque não há surpresa qdo se faz sempre o mesmo. E a piada sai dependendo de como eu estou. Não sou uma pessoa contente todas as horas do dia como nos programas de televisão, se estou de mau humor a tira sai com mau humor, e as pessoas já me conhecem e têm paciência.




Li em uma entrevista você dizer que o Bon Jour era “exagerado”. Por quê? E o que mudou dos tempos de Bon Jour para o Macanudo?
Bonjour foi a primeira história em quadrinhos que fiz num jornal semanal, eu queria chamar a atenção porque queria trabalhar com isso e não passar despercebido, então cada ideia extrema que me ocorria de humor negro, cada ideia estranha, bizarra, estrambótica, eu fazia, e mandava desenhos cada vez mais complexos para que publicassem maiores. Mas o choque que tem muito em Bon Jour se torna rapidamente previsível. A tira que eu queria fazer era Macanudo, mais clássica como Peanuts ou Mafalda, embora também me divertisse muito com o Bon Jour. Além disso, eles saíam em jornais com linhas editoriais diferentes, o Bon Jour no Página 12, de esquerda, onde não se assustam com nada. O La Nacion é mais conservador, tem leitores crianças, é preciso ter mais cuidado, mas por sorte me deixaram fazer a tira que eu queria.

Enriqueta é uma grande leitora, você criou a Vaca Cinéfila, suas tiras constantemente têm referências a filmes e livros... O que você costuma ler, ouvir, ver no cinema?
Sou muito voraz, preciso que a todo tempo alguém esteja me contando uma história, por isso leio muito, vou ao cinema, vejo televisão, séries, escuto muita música. Chaplin, por exemplo, é uma influência muito grande para mim.



E para os seus pingüins...
Para os pingüins, claro! São os animais mais chaplinescos com que cruzei, não tenho que fazer muito esforço para que sejam graciosos. Chaplin tem essa mescla de felicidade e tristeza que em mim gera uma emoção mais interessante do que a alegria ou a tristeza pura. Ele te põe em uma encruzilhada, não saber se rir ou chorar. E Enriqueta é como eu era quando criança.



Como funciona a sua parceria com o músico Kevin Johansen?
Faço um show com Kevin, enquanto ele toca as músicas, vou desenhando o que me despertam as canções deles – se lindas e sutis, faço desenhos mais abstratos. No fim, fazemos aviõezinhos e os atiramos ao público, que é mais simpático do que guardá-los. Este ano, certamente, vamos ao Brasil.

Você considera boas as relações entre ilustradores do Brasil e da Argentina?
Sou fanático por vários desenhistas brasileiros, em geral por ler os poucos que chegavam aqui quando eu era menino. Tinha o Adão porque alguém emprestava, ele viveu um tempo na Patagônia com os pingüins, o que muito invejo. Nos anos 90, veio um desenhista de Porto Alegre que me enlouqueceu, Fábio Zimbres. É uma das minhas maiores influências, mas eu nunca disse a ele, senão vai se envaidecer (risos). Tem um dos estilos mais graciosos e divertidos de escrever, mas gosto mais dos desenhos, que são incríveis.



O que costuma ouvir de leitores brasileiros?
Nos blogs, no twitter, em tudo que faço aparece um “tudo bem”, “legal” (em português, não espanhol). Não estava nos meus planos que minhas histórias ultrapassassem a fronteira Argentina. É lindo ver os livros publicados em outros idiomas, português, francês, e ir a Praga apresentar Macanudo em tcheco. Estou começando a aceitar essas coisas como normais.



sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Bons ventos sopram no MON

Um alívio para a classe artística. Está definido, finalmente, um nome para gerenciar o Museu Oscar Niemeyer, e é o de alguém ligado intimamente às artes visuais: a artista plástica curitibana Estela Sandrini, a Teca Sandrini.
Gerenciar, e não dirigir como antes, porque o MON passa a integrar a Secretaria da Cultura do Paraná, sob supervisão direta do secretário Paulino Viapiana, que extinguiu a Secretaria Especial criada para administração do espaço, chefiada pela então primeira-dama Maristela Requião.

Uma das primeiras ações a serem implantadas pela secretaria será formar o Conselho Curatorial do MON, mas, para isso, Viapiana pretende promover um amplo debate com curadores que já participam de conselhos em museus de todo o país, professores ligados à área e também com pessoas da sociedade civil ligadas à cultura -- o que, aliás, foi uma das sugestões de artistas e críticos que entrevistei recentemente (veja post abaixo).
Formada em Pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP) e Didática em Desenho pela PUC-PR, Teca Sandrini possui especialização em Escultura pelo atelier de Juan Carlo Labourdette, da Argentina, e em Gravura e Pintura pelo Maryland Institute of Arts (EUA), além de especialização em Antropologia Filosófica, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
As obras da artista estão presentes em diversos acervos, como nos museus de arte contemporânea do Paraná, Pernambuco e Goiás, no Museu de Arte Brasileira da FAAP (SP), no Eubie Blake Cultural Center (EUA) e em várias coleções particulares. As obras de Teca Sandrini também compõem o acervo do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, da Fundação Álvares Penteado e do Museu Oscar Niemeyer.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Afinal, quem vai dirigir o MON?

por Annalice Del Vecchio
Passados mais de 15 dias desde que Paulino Viapiana tomou posse da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná (Seec), persiste a pergunta: quem assumirá as funções de diretor dos principais museus do Estado do Paraná – principalmente, daquele que é um dos maiores do país, o Museu Oscar Niemeyer?
Fiz a pergunta a Viapiana na véspera da publicação de um Caderno G Ideias, da Gazeta do Povo, no dia 8 de janeiro, sobre os principais problemas diagnosticados por artistas e curadores relacionados ao Teatro Guaíra, ao MON e a outros equipamentos culturais administrados pelo governo do Estado. O secretário me disse que, após uma reunião, me telefonaria para informar, em primeira mão, o nome do diretor do MON. Mas até o fechamento da edição, ele não havia chegado a uma conclusão (a demora parece significar entraves burocráticos a serem resolvidos).
A única boa notícia que obtive, até então, é que o museu finalmente passa a ser gerido pela Seec, assim como todos os outros espaços culturais. O fato foi comemorado pelos artistas e críticos que entrevistei, que se sentem mais esperançosos com a nova gestão ("pior do que estava não pode ficar", alguns definiram). A decisão é um indício de que finalmente a verba da Lei Rouanet, que vinha sendo utilizada exclusivamente para manutenção e realização de exposições do MON, finalmente poderá ser dividida entre outros projetos culturais como, por exemplo, para a reforma dos demais museus, como a Casa Andrade Muricy, o Museu de Arte Contemporânea e o Museu Alfredo Andersen, que ficaram a míngua na última gestão. “Trabalhei em duas exposições nos últimos dois anos no MAC e encontramos inúmeros problemas: ‘chove’ dentro de algumas salas, as instalações elétricas estão precárias, os equipamentos de segurança inexistem”, observou o artista, professor e crítico de arte Fabrício Vaz Nunes.
Enquanto não são divulgados os novos diretores do museus, vale conferir o diagnóstico realizado por alguns artistas e críticos sobre a gestão passada do MON para a reportagem do Caderno G Ideias. Para eles, houve pontos fortes como as boas mostras de fora trazidas a Curitiba. Mas, os pontos fracos desequilibraram a balança: a falta de nomes paranaenses nas salas do museus e a falta de transparência na gestão do museu, nas curadorias e na política de aquisição dos acervos.
Espera-se, inclusive, que transparência seja a palavra-chave para a nomeação de um novo mandatário para o MON (que, finalmente, seja um técnico, e não um político), capaz de compreender as necessidades deste museu com potencial para ser um dos melhores espaços de arte do Brasil.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Antes do Fim: o descompasso entre modos de interpretar



por Luciana Romagnolli

Como terminei o ano em meio ao caos de uma mudança repentina, não consegui escrever sobre dois espetáculos curitibanos que vi em dezembro. Acabei concentrando as forças em Oxigênio, porque foi o que realmente me despertou mais reações emocionais e racionais, e sobre o qual acabo de fazer um texto mais cuidadoso para a revista eletrônica Questão de Crítica (link na coluna ao lado). Deve ser publicado em breve.

Não pode passar em branco, porém, a montagem de Antes do Fim (foto de Elenize Dezgeniski) levada ao Teatro Novelas Curitibanas pelo diretor Marcos Damaceno. É um texto complexo, especialmente por não ter nenhuma marca temporal precisa. Conjuga presente e passado.

Se, por um lado, o autor Marcelo Bourscheid busca na tradição do mito grego de Ifigênia a natureza das relações de afeto e inveja entre seus personagens, por outro, os transfere para uma estrutura dramatúrgica moldada conforme a lógica contemporânea da descontinuidade fragmentada, que se sustenta suspensa no discurso, sem alicerces objetivos.

Damaceno traduz essa suspensão temporal - que também atinge a ação dos personagens na medida que esperam pelo retorno de Ifigênia - em um cenário surrealista, incomum à estética comedida de outras montagens de sua companhia (a mais recente, Árvores Abatidas ou Para Luís Melo). Uma porta paira no ar, mas, mais impactante ainda é a quantidade de areia a recobrir o palco, afundando os móveis da casa, entortados pelo descuido de quem perdeu a atenção com a vida prática porque a sentimental ganhou medidas incontíveis.

Bom ver um diretor a quem as palavras são tão caras investir na concepção visual como portadora de significados próprios, que impressionam o espectador por outras vias de percepção e estimulam o imaginário a dar consistência àquela realidade desolada. Há um esforço em criar soluções visuais, por exemplo, a partir de uma poça, que materializa as relações dos habitantes daquela casa perdida com o mar próximo.

Acontece que, na falta de âncoras de um cenário que não é "lugar" e de um texto que não responde "quando" ou "onde", a movimentação de alguns personagens permanece sem delineio. Não é o caso da Ifigênia de Rosana Stavis, apartada dos demais num extremo do palco. Mas, uma vez que os que a esperam se afastam da posição inicial de "álbum de família", alguns atores ficam desconfortáveis com o próprio posicionamento em cena.

A questão vai um pouco além. Estão desconfortáveis com o tipo de representação concebido para a montagem. A própria estrutura do texto dispensa a interpretação psicológica e suas manifestações emocionais intensamente arrebatadas, embora esse seja o caminho trilhado por parte dos atores. Ao passo que a atriz Rosana Stavis atende ao ideal do diretor de desenvolver a musicalidade da fala cadenciada com pausas e tonalidades causadoras de estranhamento. O descompasso entre os dois registros de atuação, no entanto, enfraquece ambos.

Já se tinha uma ideia prévia de que esse seria o ponto nevrálgico da montagem desde a leitura dirigida também por Damaceno na Mostra do Núcleo de Dramaturgia do Sesi/PR, realizada ano passado, durante o Fringe. Naquela ocasião, Rosana sobressaía por uma leitura extremamente contida e nuançada, fazendo com que as mais sutis alterações reverberassem. Era gritante a disparidade em relação aos atores que, ao contrário, optaram pelo excesso dramático, sem igual efeito.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Mostras curitibanas e "Tio Vânia" no 20° Festival de Curitiba

por Luciana Romagnolli

Parece que o teatro curitibano finalmente entendeu que, para não desaparecer no mercadão do Fringe, é preciso se organizar. O 20° Festival de Curitiba, que acontece de 29 de março a 10 de abril, terá recorde de mostras com grupos da cidade. 

Sobrevive o Coletivo Pequenos Conteúdos, em sua terceira edição no TUC; e a Mostra do Núcleo de Dramaturgia Sesi/PR se repete no Teatro José Maria Santos. A Mostra Novos Repertórios ressuscita, agora no Espaço Dois; e surge mais uma, Outros Lugares - Teatro de Novos Autores, no Teatro da Caixa. 

Além disso, o diretor Marcio Abreu, da Companhia Brasileira, será um dos programadores do Fringe, usando os limites físicos da sede da companhia, no Largo da Ordem, onde apresentará uma nova temporada de Oxigênio. "É praticamente impossível fazer uma programação de espetáculos, então vamos nos voltar para a formação, o intercâmbio e leituras", diz. Devem participar das atividades os mineiros do Espanca!, o diretor e dramaturgo Newton Moreno, e os diretores franceses Pierre Pradinas, de Limoges, e Thomas Quillardet, de Paris (com quem já trabalhou no Projeto Copi e no Fórum sobre Paulo Leminski). Atualmente na capital francesa, Marcio parte para fazer uma residência artística em Limoges ao fim do mês, que deve gerar uma montagem binacional.

Acompanhem:

I Mostra Outros Lugares - Teatro de Novos Autores
Onde: Teatro da Caixa.
Perfil: novos dramaturgos paranaenses. 
Programação: Antes do Fim (foto de Elenize Dezgeniski), com texto de Marcelo Bourscheid e direção de Marcos Damaceno.
Habitué, com texto e direção de Alexandre França.
Os Invisíveis, com texto e direção de Diego Fortes.
O Butô do Mick Jagger, com texto e direção de Luiz Felipe Leprevost.
(Mais um convidado a confirmar) 

II Mostra do Núcleo de Dramaturgia Sesi /PR
Onde: Teatro José Maria Santos
Perfil: peças escritas durante as oficinas do núcleo, coordenado por Marcos Damaceno e orientadas por Roberto Alvim.
Programação ainda em definição: A curadoria formada pelos críticos Luiz Fernando Ramos (Folha de São Paulo) e Gabriela Melão (Bravo!) vai selecionar, entre os textos produzidos pelo núcleo, 15 peças para publicação, cinco a serem lidas e uma que será montada. Além disso, a mostra vai receber um espetáculo da companhia Club Noir, de Roberto Alvim e Juliana Galdino.

Mostra Novos Repertórios
Onde: Espaço Dois. 
Perfil: quatro montagens curitibanas de textos recentes. 
Programação: Café Andaluz - 10 anos, com elenco origina da Armadilha.
[...] Roteiro Escrito com a Pena da Galhofa e a Tinta do Esqueciment(foto de Alessandra Haro), com a Pausa Companhia.
Com Amor, com o Teatro de Breque.
Os Três Espelhos, com texto e direção de Maureen Miranda.


Coletivo Pequenos Conteúdos
Onde: TUC.
Perfil: jovens coletivos teatrais que trabalham com pesquisa de linguagem, em geral com peças curtas.
Programação: Show Sem Querer Deitei do Teu Lado Mais Frágil, com  A Banda Mais Bonita da Cidade.
Eu Nunca, com a Companhia Transitória.
Popcorn, com a Cia Popcorn, Arte de Micro-ondas.
Laranja Mecânica/ Trash Laura Brown, com a Companhia de Bife Seco.
Vivienne, com a Companhia de Bife Seco.
Silêncio, com a Companhia Subjétil. 
Metamorfoses de Ofélia, com o Coletivo para Ofélia.
Catástrofe, com a Sim Companhia de Teatro. 
Se Conselho Fosse Bom Seria Ação de Classificados (foto de Elenize Dezgeniski), com o coletivo Cães Lacrimosos. 
Ela i eu ou nada que transpareça, com o Coletivo deDois. 
Espaço Outro, com ACruel Companhia.

*

Enquanto isso, em Belo Horizonte...
Chico Pelúcio, do Grupo Galpão, será novamente programador do Fringe. No ano passado, sob a sua curadoria a cidade recebeu De Como Fiquei Bruta Flor, dirigida por Cibele Forjaz, e É Só uma Formalidade, do Quatroloscinco.

Tudo indica que o grupo mineiro vai estrear na Mostra Oficial de Curitiba sua nova montagem, Tio Vânia, de Tchékhov, com a direção da mineira Yara de Novaes (As Meninas, O Caminho para Meca e A Mulher que Ri). Ao mesmo tempo, o Galpão prepara outro espetáculo com textos do dramaturgo russo, desta vez seus contos, para estrear em dezembro.



Olá a todos

Este é o começo das travessias: idas e vindas entre o que acontece de interessante na cena cultural de Belo Horizonte e de Curitiba. As duas cidades podem até continuar à margem do eixo-cultural principal do país, mas, mais do que nunca, não devem ser ignoradas em razão de uma produção artística - sobretudo em teatro e cinema - que se fortalece cada vez mais.

Criamos este blog para falar das nossas realidades culturais, sem limitação de tema ou formato. A Annalice mora em Curitiba, onde trabalha na Gazeta do Povo, escreve crônicas e cobre a cena de cinema e artes visuais. Na virada do ano, a Luciana trocou a capital paranaense, onde cobriu teatro por quatro anos, por Belo Horizonte, para trabalhar também com cultura no jornal O Tempo. Em vez de deixar que a amizade e os interesses culturais se distanciassem, resolvemos somá-los aqui.

Com o tempo, vocês vão encontrar neste blog notícias e críticas (e possivelmente as crônicas da Annalice) sobre as diversas artes, inclusive as visuais, música e literatura. Tudo depende do que inquietar nossas mentes. E outras cidades podem se somar a essas duas, basta surgir a chance.

Então, nos acompanhem!

Abraços

Annalice e Luciana
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