Em
‘What We Saw from the Cheap Seats’, Regina Spektor concilia a
embalagem pop aos seus arroubos criativos
A doce e excêntrica russa
¬
LUCIANA ROMAGNOLLI
¬ Regina
Spektor não tem pressa em gravar suas músicas em discos. Desde “Far”
(2009), com o qual chegou ao terceiro posto na Billboard, já se
foram três anos. E muito tempo mais faz que compôs
algumas canções presentes em seu sexto álbum de estúdio, “What
We Saw from the Cheap Seats”, cujo lançamento oficial será nesta
terça – embora esteja disponível na internet desde a semana
passada.
Para
quem acompanha de perto a carreira da cantora e compositora de origem
russa– que migrou com a família para Nova York na infância –,
quase a metade das faixas é conhecida de registros de shows. É o
caso de “Patron Saint”, da qual se encontra, no Youtube, áudio
de um apresentação em 2003. Ao menos desde 2007, já circulam “All
The Rowboats” e “Small Town Moon”. A letra de “Oh Marcello”
vazou por volta de 2008. “Open” e “Ballad of a Potitician”
também não são novas. E “Don’t Live Me (Ne Me Quitte Pas)” já
estava em “Songs”, seu segundo CD, inédito no Brasil.
Se
as faixas de hoje podemter sido compostas antes das de discos
anteriores, seria, então, leviano traçaruma linha
progressiva na discografia dela. O que acontece desde “Begin to Hope”
(2007), quando assinou com uma grande gravadora (a Warner), é que a
passagem pelo estúdio deixa marcas cada vez mais substanciais. “Far”
foi o auge disso,comarranjos
acobertandoopiano
e marcação insistente da bateria, numaembalagem pop.
INDOMÁVEL.
Aos 32 anos, Spektor
mostra em “What We Saw...” um produto ainda mais trabalhado em
estúdio, o que a distancia do som cru de voz e piano dos
experimentais primeiros
discos. Até certo ponto, contudo.Para alívio de quem a ouve, ela
concilia como nunca nesse sexto disco as exigências de mercado –
as quais não pode ignorar desde o estouro de “Fidelity” – ao
gosto fora dos padrões, que a faz peculiar.
Por
um lado, redobra as atenções sobre os doces agudos e as torrentes
emocionais, enquanto capricha em ruídos vocálicos, variações
melódicas inesperadas e demais excentricidades que dão
personalidade à obra. Como artista que se preze, seu terreno não é
o do ordinário. Ela preserva algo de indomável. A multiplicidade de
estilos habita “What We Saw from the Cheap Seats” como humores
oscilantes. Há espaço para o lírico e o épico, o drama e a graça
– por vezes na mesma estrofe.
Todas
as composições do disco são autorais. As exceções vêm como
bônus na edição especial para o iTunes. Trata-se de duas
regravações da cantora russa Bulat Okudzhava, “The Prayer of
François Villon” e “Old Jacket”, que Regina canta em sua
língua materna (como já fez em
versos
de “Aprés Moi”, de “Begin to Hope”).Oterceiro extra é o duo
“Call Them Brothers”, com
o marido Jack Dishel, vocalista do Only Son e guitarrista do The
Moldy Peaches.
Seu
produtor é Mike Elizondo, da equipe do “Far”, mas que agora atua
sozinho. Ao jornal “The New York Times”, ele disse gostar
detrabalhar com artistas que ainda não alcançaram o público que
merecem, e que identifica, no disco novo, “uns quatro” singles
com esse potencial.
Na
mesma entrevista,Regina faz um comentário que pode ser entendido
como o seu projeto artístico. “Você coloca ‘RubberSoul’ou‘Sgt.
Pepper’s’ (dos Beatles) ou ‘Freewheelin’ Bob Dylan’ (do Bob
Dylan) e são sólidos. Desde a primeira nota que se ouve, nada sai
errado. Por que tudo não pode ser assim?”. Com ela, é.
Consistente
da canção de amor à crítica política
7 O
piano de “Small Town Moon” abre “What We Saw from the Cheap
Seats” lembrando a fina melancolia de “Eet”, e dá vez a uma
alegria contagiante com a entrada da bateria. Regina constata:
“Today we’re younger than we’re ever going to be” (“Hoje
somos mais novos do
que jamais seremos”). É um provável hit.
Na
sequência, “Oh Marcello” embaralha tudo: fala de assassinato,
brinca com sotaque italiano com um trecho de “Don’t Let Me Be
Misunderstood” (gravada primeiro por
Nina Simone).
A
leve “Don’t Leave Me (NeMeQuitte Pas)” foi revestida de um
arranjo primaveril de
sopros muito mais suntuoso (e algo irônico) que a versão antiga.
Com melodia mais
delicada, toda ao piano, “Firewood” comove com letra triste mas
esperançosa.
“Patron Saint”
é provocativamentedestrutiva(uma mistura de “Your Honor”, sem o punk,
e “Bartender”), e a cantora avisa: “She’ll break her own
heart and you know she'll break your heart too” (“ela vai partir
o próprio coração e você sabe que vai partir o seu também”). Mais
tradicional, “How” fala de um amor perdido, investindo na beleza
de piano e vocais.
Comintrodução
eletrônica, a densa e sombria “All the Rowboats” traz Regina
criando sons de bateria com a boca, sobre uma letra surrealista. Já
em “Ballad of a Politician”, ela critica o poder em tom
sussurrado e cortante de ameaça.
“Open”
é a faixa mais grandiosa, com piano e vocais dramáticos em
atmosfera suave que se agrava. É seguida pelo romantismo rasgado de
“The Party”.
Ao
fim, a breve “Jéssica” encerra ao violão um repertório tão
diverso quanto consistente e expressivo,
marcado pela imprevisibilidade. (LR)
A
doce e excêntrica russa
Para
ouvir
A
Warner promete lançá-lo no
Brasil também no dia 29, como em outros países.
No
iTunes, estarão à venda
faixas-bônus.
Fiona
em junho
É
tempo de expectativa para os fãs de
cantoras-pianistas. Depois de Spektor, quem lança disco
novo em junho – sete anos após o último – é Fiona Apple.
O
título, imenso, começa com
“The Idler Wheel Is Wiser Than The Driver....”. Já saiu o single "Every Single Night”.