quarta-feira, 15 de junho de 2011

Laurie Anderson no CCBB carioca: uma grande descoberta


Estive no Rio na semana passada entrevistando as atrizes francesas Catherine Deneuve, Sandrine Bonnaire e Audrey Tautou, que participaram da edição deste ano do Festival Varilux do Cinema Francês, e graças ao meu colega Roger Lerina, jornalista do Zero Hora, tive a sorte de conhecer o trabalho ímpar de outra mulher: Laurie Anderson.

Ele me guiou em uma visitinha, infelizmente muito rápida, ao Centro Cultural Banco do Brasil, onde fica em cartaz até o dia 26 deste mês uma mostra retrospectiva desta artista norte-americana considerada uma das mais importantes da cena contemporânea. Perdoem-me a ignorância por não conhecer o trabalho desta fantástica artista, que desde os anos 60 surpreende por suas performances impactantes e de grande força poética.

Com curadoria de Marcello Dantas, a mostra chamada I in U – Eu em Tu, exibe, pela primeira vez no Brasil, 31 obras, entre instalações, fotografias, desenhos, vídeos, músicas e documentações de performance da artista, que esteve no local, no dia de abertura, realizando uma performance em toca violino sobre um bloco de gelo até que ele derreta. Quem não conferiu ao vivo, pode ver o número em vídeo e em fotos.

O que mais me impressionou ao ver a mostra foi a capacidade da artista de mesclar, de uma forma orgânica como poucos artistas conseguem, as mais diferentes linguagens: da escultura à literatura, da pintura à música, da fotografia ao vídeo. É a palavra, aliás, que alinhava quase todo o trabalho mostrado ali no CCBB. Andersen é uma contadora de históridas das mais inventivas como se pode verificar na instalação "Desilusão", uma série de curtas peças de mistério que combina violino, marionetes, imagens e palavras criadas sob a crença de que histórias podem criar o mundo e, ao mesmo tempo, destruí-lo. Em meio às narrativas, há frases como:

"E quando as lágrimas caem dos meus dois olhos, elas caem do meu olho direito porque eu amo você. E elas caem do meu olho esquerdo porque eu não consigo suportar você."

"Sonhei que era um cão numa exibição de cães e meu pai foi à exibição de cães e disse: 'Esse é um cachorro muito bom. Gosto desse cachorro'."

Entre as obras, também há uma série de fotografias em que a Anderson se retrata dormindo nos mais diversos lugares, na rua, na praia gelada, em uma biblioteca, em um órgão público. Ela fez o experimento para saber se seus sonhos seriam influenciados pelos espaços onde repousava. Também há violinos confeccionados por ela; livros em que o conteúdo está relacionado exclusivamente ao ato de "virar páginas"; um diário pessoal em texto e imagem; a videoinstalação inédita Gray Rabbit, com a participação de seu marido, o músico Lou Reed. Então, corra, se puder ver a mostra.